O parto

Um bastidor do post de ontem – jamais revelado – foi a montanha russa em que se transformou o job “Taça Campeão Carioca 2010″. A encomenda do trabalho foi feita com uma antecedência relativamente decente. Era um prazo confortável até a data da decisão, em se falando de Brasil. Sete semanas. Agilidade operacional sempre foi padrão na agência e, por isso, não houve apreensão de parte a parte. Em uma semana leiautamos e aprovamos o projeto gráfico com o diretor artístico da emissora, Ricardo Henrique (hoje com uma produtora musical em Berlim). Fomos então à procura de bons fornecedores. Conseguimos uma empresa experiente no ramo, em São Paulo, que nos fez um preço bastante razoável. Negócio fechado, arte enviada. Combinamos que receberíamos um protótipo, antes de autorizar a fundição. Pela dificuldade e pela distância, entendemos que duas semanas era um bom prazo. Mas passou-se o tempo e o material não veio. Cobramos. Pediram mais alguns dias. Tínhamos ainda certo tempo. Concordamos. Na sexta-feira, dia 9, fecharia a quarta semana – e nada do trabalho. Como assim? Me destemperei ao telefone, o estresse já lá em cima. Já não queríamos o protótipo, já não havia tempo. Teriam que mandar o troféu definitivo, tínhamos somente três semanas pela frente, a final seria no primeiro fim de semana de maio. Mas no domingo, 11 de abril, o Botafogo, que já havia ganho o primeiro turno contra o Vasco e se classificara antecipadamente para a final, venceu o Fluminense por 2×1 e estava na decisão do segundo turno contra o Flamengo. Seria ótimo (para mim, alvinegro) se não fosse um agravante (para mim, dono da agência responsável pelo troféu): se o Botafogo ganhasse do Flamengo, em 18 de abril, babau. Acabaria o campeonato. E aí, cadê a taça? E, eu aqui, sem a taça, cadê a conta? Seria o único título botafoguense que eu lamentaria na vida… Ou seja, de três semanas meu deadline caiu para… uma semana! A empresa paulistana, em quem eu tinha confiado a confecção, irresponsavelmente pulou fora. Disse que não entregaria e se lixou. Eu não tinha tempo para desespero ou bate-boca. Fui pro telefone (há dez anos os sites não eram tão completos e nem todas as empresas tinham um) e saí fazendo contato feito um louco com uma dúzia de fornecedores. Eu não tinha verba para uma taxa de urgência. E, pior, não tinha tempo. Encontrei uma alma caridosa no Rio Grande do Sul que entendeu o meu drama e se prontificou a fazer a taça em três dias. Mas não ia dar para checar nada. Era mandar a arte e o pagamento antecipado, explicar bem explicadinho – e rezar. Era segunda-feira 12. Era para a taça ser despachada na quinta-feira 15, chegaria na sexta de manhã, dia 16. Na quinta-feira à tarde o fornecedor me mandou uma foto do troféu finalizado. Mal dava para ver. A imagem estava escura, tirada de cima e um pouco distante. Suspirei. A empresa disse que já estava entregando para a transportadora. Fiz figa. Passei toda a sexta-feira com os dedos cruzados. Não só pela chegada do troféu, como na expectativa pela qualidade da confecção e também pela fidelidade ao projeto. Sexta-feira à tarde e nada do caminhão chegar. A empresa do Sul conseguiu ligar para o motorista. Só iria chegar no sábado de manhã, dia 17 de abril. Algum problema na estrada. Tá bom. Por precaução, pedi que mudassem o endereço da entrega. Sábado de manhã a rotina na emissora é atípica. Assim, ao invés de entregarem na Rua do Livramento, pedi que deixassem na casa do principal locutor da casa, o (também botafoguense) Luís Penido, hoje na Globo. Desci a serra com meu filho, para pegar o troféu com o Penido, que, por sua vez, por exigência da federação, se antecipou e já entregou a taça diretamente na FERJ, ali mesmo no Maracanã. Cheguei no prédio da entidade em seguida. O diretor da federação gentilmente me atendeu e me levou até a sala onde o troféu já estava instalado. Lambi a cria, aliviado. Campeonato salvo. Conta salva. Eu mesmo salvo. Só quem não se salvou foi o Bruno, no dia seguinte. Mas aí o troféu já não me pertencia. Essa estória eu vou deixar pro Loco Abreu contar…

Em Agência

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